quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Pra onde você quiser eu vou




Pra Sonhar

Quando te vi passar fiquei paralisado
Tremi até o chão como um terremoto no Japão
Um vento, um tufão
Uma batedeira sem botão
Foi assim viu
Me vi na sua mão

Perdi a hora de voltar para o trabalho
Voltei pra casa e disse adeus pra tudo que eu conquistei
Mil coisas eu deixei
Só pra te falar

Largo tudo
Se a gente se casar domingo
Na praia, no sol, no mar
Ou num navio a navegar
Num avião a decolar
Indo sem data pra voltar
Toda de branco no altar
Quem vai sorrir?
Quem vai chorar?
Ave maria, sei que há
Uma história pra sonhar
Pra sonhar

O que era sonho se tornou realidade
De pouco em pouco a gente foi erguendo o nosso próprio trem,
Nossa Jerusalém,
Nosso mundo, nosso carrossel
Vai e vem vai
E não para nunca mais

De tanto não parar a gente chegou lá
Do outro lado da montanha onde tudo começou
Quando sua voz falou:
Pra onde você quiser eu vou

Largo tudo
Se a gente se casar domingo
Na praia, no sol, no mar
Ou num navio a navegar
Num avião a decolar
Indo sem data pra voltar
Toda de branco no altar
Quem vai sorrir?
Quem vai chorar?
Ave maria, sei que há
Uma história pra contar
Domingo
Na praia, no sol, no mar
Ou num navio a navegar
Num avião a decolar
Indo sem data pra voltar
Toda de branco no altar
Quem vai sorrir?
Quem vai chorar?
Ave maria, sei que há
Uma história pra contar
Pra contar

Marcelo Jeneci

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Yo Vengo a Ofrecer mi Corazón




Yo Vengo a Ofrecer mi Corazón

¿Quién dijo que todo está perdido?
yo vengo a ofrecer mi corazón,
tanta sangre que se llevó el río,
yo vengo a ofrecer mi corazón.

No será tan fácil, ya sé qué pasa,
no será tan simple como pensaba,
como abrir el pecho y sacar el alma,
una cuchillada del amor.

Luna de los pobres siempre abierta,
yo vengo a ofrecer mi corazón,
como un documento inalterable
yo vengo a ofrecer mi corazón.

Y uniré las puntas de un mismo lazo,
y me iré tranquilo, me iré despacio,
y te daré todo, y me darás algo,
algo que me alivie un poco más.

Cuando no haya nadie cerca o lejos,
yo vengo a ofrecer mi corazón.
cuando los satélites no alcancen,
yo vengo a ofrecer mi corazón.

Y hablo de países y de esperanzas,
hablo por la vida, hablo por la nada,
hablo de cambiar ésta, nuestra casa,
de cambiarla por cambiar, nomás.

¿Quién dijo que todo está perdido?
yo vengo a ofrecer mi corazón.

Fito Paez

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Mortal loucura




Mortal loucura

Na oração que desaterra, a terra
Quer Deus que a quem está o cuidado, dado
Pregue que a vida é emprestado, estado
Mistérios mil que desenterra, enterra
Quem não cuida de si, que é terra, erra
Que o alto Rei, por afamado, amado
É quem lhe assiste ao desvelado, lado
Da morte ao ar não desaferra, aferra
Quem do mundo a mortal loucura, cura
A vontade de Deus sagrada, agrada
Firmar-lhe a vida em atadura, dura
O voz zelosa, que dobrada, brada
Já sei que a flor da formosura, usura
Será no fim dessa jornada, nada.

José Miguel Wisnik

quarta-feira, 1 de junho de 2011

É tanta coisa pra gente saber



http://www.youtube.com/watch?v=KATB9eFzeQA

Preciso Aprender a Só Ser

Sabe, gente
É tanta coisa pra gente saber
O que cantar, como andar, onde ir
O que dizer, o que calar, a quem querer

Sabe, gente
É tanta coisa que eu fico sem jeito
Sou eu sozinho e esse nó no peito
Já desfeito em lágrimas que eu luto pra esconder

Sabe, gente
Eu sei que no fundo o problema é só da gente
E só do coração dizer não, quando a mente
Tenta nos levar pra casa do sofrer

E quando escutar um samba-canção
Assim como: "Eu preciso aprender a ser só"
Reagir e ouvir o coração responder:
"Eu preciso aprender a só ser"

Gilberto Gil

domingo, 29 de maio de 2011

Você, por exemplo.




Você, por exemplo.

Há muita gente que apesar do pincinê
Passa por nós, dá esbarrão e não nos vê
Anda depressa mas vai sempre com atraso
Você, por exemplo, você por exemplo, está neste caso.

Quanto barbado que não paga engraxate
Muda de casa e deixa mudo o alfaiate
Quanto barbado que jejua mais que o Gandhy
Você, por exemplo, você por exemplo, não tem barba grande.

Há muitas santas no mundo que vivem fora do templo
Santas de olhar bem profundo
Você, por exemplo, você, por exemplo

Quanta menina por ouvir no telefone
Uma voz grossa feito solo de trombone
Pega o automóvel vai parar não sei aonde
Você, por exemplo, você por exemplo, não anda de bonde.

E muita gente que só sabe dar palpite
Que tem cabeça mas já teve meningite
E tanta gente vive bem sem um pulmão
Você, por exemplo, você por exemplo, não tem coração.

Noel Rosa

domingo, 1 de maio de 2011

É ter o coração daquilo

Genipapo Absoluto

Como será pois se ardiam fogueiras
Com olhos de areia quem viu
Praias, paixões fevereiras
Não dizem o que junhos de fumaça e frio
Onde e quando é genipapo absoluto
Meu pai, seu tanino, seu mel
Prensa, esperança, sofrer prazeria
Promessa, poesia, Mabel

Cantar é mais do que lembrar
É mais do que ter tido aquilo então
Mais do que viver do que sonhar
É ter o coração daquilo

Tudo são trechos que escuto - vêm dela
Pois minha mãe é minha voz
Como será que isso era este som
Que hoje sim, gera sóis, dói em dós
"Aquele que considera"
A saudade de uma mera contraluz que vem
Do que deixou pra trás
Não, esse só desfaz o signo
E a "rosa também

Caetano Veloso

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Bêbado de sambas e tantos sonhos, choro a lágrima comum...



Bebadosamba

Um mestre do verso, de olhar destemido,
disse uma vez, com certa ironia:
"Se lágrima fosse de pedra
eu choraria"
Mas eu, Boca, como semrpe perdido
Bêbado de sambas e tantos sonhos
Choro a lágrima comum,
Que todos choram
Embora não tenha, nessas horas,
Saudade do passado, remorso
Ou mágoas menores
Meu choro, Boca,
Dolente, por questão de estilo,
É chula quase raiada
Solo espontâneo e rude
De um samba nunca terminado
Um rio de murmúrios da memória
De meus olhos, e quando aflora
Serve, antes de tudo,
Para aliviar o peso das palavras
Que ninguém é de pedra

Beba do samba,meu bem
Beba da chama também.

Boca negra e rosa
Debochada e torta
Riso de cabrocha
Generosa
Beijo de paixão

Coração partido
Verso de improviso
Beba do martírio
Desta vida
Pelo coração
Beba da chama (chamamento)

Chama que o samba semeia
A luz de sua chama
A paixão vertendo ondas
Velhos mantras de aruanda


Chama por Cartola, chama
Por Candeia
Chama Paulo da Portela, chama,
Ventura, João da Gente e Claudionor
Chama por mano Heitor, chama
Ismael, Noel e Sinhô
Chama Pixinguinha, chama,
Donga e João da Baiana
Chama por Nonô
Chama Cyro Monteiro
Wilson e Geraldo Pereira
Monsueto, Zé com fome e Padeirinho
Chama Nelson Cavaquinho
Chama Ataulfo
Chama por Bide e Marçal
Chama, chama, chama
Buci, Raul e Arnô Cabegal
Chama por mestre Marçal
Silas, Osório e Aniceto
Chama mano Décio
Chama meu compadre Mauro Duarte
Jorge Mexeu e Geraldo Babão
Chama Alvaiade, Manacéa
E Chico Santana
E outros irmãos de samba
Chama, chama, chama

Paulinho da Viola

sábado, 16 de abril de 2011

Canto Brasileiro




"Meu coração é o violão de espanha
Meu sangue quente é o banjo americano
A minha voz é o cello da alemanha
Meu sentimento é o bandolim cigano

A minha mágoa é o som francês do acordeon
Meu crânio é a gaita de fole escocesa
Meus nervos são como bandoneon
Minha calma é igual guitarra portuguesa

Meu olho envolve como flauta indiana
Minha loucura é como harpa romana
Meu grito é o corne inglês de desespero

Maldito ou bíblico, demônio ou santo
Cada país foi me emprestando um canto
E assim nasceu meu canto brasileiro"

Paulo César Pinheiro

na foto, Paulinho da Viola.

O importante é que a nossa emoção sobreviva!




“Ninguém faz futuro sem passado nem presente.
O único futuro conhecido é a morte.
Quando você diz que alguém está na frente.
Não é. Está bastante. Está ciente.
Está forte.
Diante da razão seu coração se guarda.
Diante da emoção sua razão complica
E entre os dois há luta. E a solução retarda.
O que é o antigo? O que é o momento? O que é a vanguarda?
O que é que fica?
Agora o que é de agora. Estou por aí na ativa.
Que viva a roda e a roda-viva perca a vida!
E pra que você veja a chama ainda viva,
O importante é que a nossa emoção sobreviva!”

Paulo César Pinheiro

sexta-feira, 15 de abril de 2011

EMBRIAGUEM-SE




EMBRIAGUEM-SE

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.


Charles Baudelaire

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Elegia




Elegia

Deixa que minha mão errante adentre
atrás, na frente, em cima, em baixo, entre

Minha América, minha terra à vista
Reino de paz se um homem só a conquista

Minha mina preciosa, meu império
Feliz de quem penetre o teu mistério

Liberto-me ficando teu escravo
Onde cai minha mão, meu selo gravo

Nudez total: todo prazer provém do corpo
(Como a alma sem corpo) sem vestes

Como encadernação vistosa
Feita para iletrados, a mulher se enfeita

Mas ela é um livro místico e somente
A alguns a que tal graça se consente
É dado lê-la


Augusto de Campos / Péricles Cavalcanti
(A partir de um poema de John Donne, poeta inglês do século XVII)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Eu te amo de alma para alma.




Quando o Amor Vacila

Eu sei que atrás deste universo de aparências,
das diferenças todas,
a esperança é preservada.

Nas xícaras sujas de ontem
o café de cada manhã é servido.
Mas existe uma palavra que não suporto ouvir,
e dela não me conformo.

Eu acredito em tudo,
mas eu quero você agora.

Eu te amo pelas tuas faltas,
pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas, minha vida.

Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.

Amo teu jogo triste.

As tuas roupas sujas
é aqui em casa que eu lavo.

Eu amo a tua alegria.

Mesmo fora de si,
eu te amo pela tua essência.
Até pelo que você poderia ter sido,
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado
nas águas do equívoco.

Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo, quando,
sozinha, bordo mais uma toalha
de fim de semana.

Eu te amo pelas crianças e futuras rugas.

Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis.

Amo teu sistema de vida e morte.

Eu te amo pelo que se repete
e que nunca é igual.

Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.

Eu te amo desde os teus pés
até o que te escapa.

Eu te amo de alma para alma.
E mais que as palavras,
ainda que seja através delas
que eu me defenda,
quando digo que te amo
mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor
vacila.



Isso é de um vídeo que a Carol me mostrou, na voz de Maria Bethania, infelizmente não consegui descobrir o autor. E a imagem é do filme "Diário de uma Paixão". Tudo muito lindo, não é? :)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Para uma Menina com uma Flor



Para uma Menina com uma Flor

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino,
o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.

E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.

E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte
eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.

E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta,
e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.

E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena;
é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.

E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha
- a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.

E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.

Vinícius de Moraes

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Pior que a morte é desviver




Sete Estrelas

Eu sou a música da gente quando nua e crua
Escorro do nariz do pobre quando ele se assua
Sou Carolina na janela desejando a rua...
Com a solitude eu ando acompanhado
Cada virtude minha é um pecado

Varejeira come lixo feito creme chantili
E que mistério tem aí?
E qual lição que eu aprendi?

Sou o cachorro na viela cobiçando a lua
Sou o vermelho da donzela quando ela menstrua
O amassado na baixela feito com gazua...
A solitude eu quis por companheira
Toda mentira minha é verdadeira

Trepadeira, borda folha feito ponto macramé:
É um mistério de se ver
E uma lição para se aprender
- Pior que a morte é desviver

Varejeira faz zoeira
No monturo do meu coração
Sete estrelas eu quisera
Sete vezes azuis sentinelas do meu violão

Eu canto a lágrima e o sal que o triste chora e sua
Eu sou a fome que há na santa quando ela jejua
O grito doido na garganta de uma cacatua...

Sou a paixão que faz seqüela quando pega e encrua
Eu sou o monstro da lagoa quando ele flutua
Se tu disser que é minha, eu digo que é a tua...

Trepadeira tece esteira
Nas paredes do meu coração:
Sete estrelas benfazejas
Sete vezes irmãs sentinelas do meu violão

Guinga

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

E não cantava se não fosse assim...



Porta Estandarte

Olha que a vida tão linda se perde em tristezas assim
Desce o teu rancho cantando essa tua esperança sem fim
Deixa que a tua certeza se faça do povo a canção
Pra que teu povo cantando teu canto ele não seja em vão
Eu vou levando a minha vida enfim
Cantando e canto sim
E não cantava se não fosse assim
Levando pra quem me ouvir
Certezas e esperanças pra trocar
Por dores e tristezas que bem sei
Um dia ainda vão findar
Um dia que vem vindo
E que eu vivo pra cantar
Na avenida girando, estandarte na mão pra anunciar.

Geraldo Vandré

Comunico oficialmente que há um lugar na minha mesa!



Benvinda

Dono do abandono e da tristeza
Comunico oficialmente que há um lugar na minha mesa
Pode ser que você venha por mero favor, ou venha coberta de amor
Seja lá como for, venha sorrindo
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Que o luar está chamando, que os jardins estão florindo
Que eu estou sozinho
Cheio de anseio e de esperança, comunico a toda gente
Que há lugar na minha dança
Pode ser que você venha morar por aqui, ou venha pra se despedir
Não faz mal pode vir até mentindo
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Que o meu pinho está chorando, que o meu samba está pedindo
Que eu estou sozinho
Vem iluminar meu quarto escuro, vem entrando com o ar puro
Todo novo da manhã
Oh vem a minha estrela madrugada, vem a minha namorada
Vem amada, vem urgente, vem irmã
Benvinda, benvinda, benvinda
Que essa aurora está custando, que a cidade está dormindo
Que eu estou sozinho
Certo de estar perto da alegria, comunico finalmente
Que há lugar na poesia
Pode ser que você tenha um carinho para dar, ou venha pra se consolar
Mesmo assim pode entrar que é tempo ainda
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Ah, que bom que você veio, e você chegou tão linda
Eu não cantei em vão
Benvinda, benvinda, benvinda. benvinda, benvinda!

Chico Buarque

Mariana e Gabriela



As Moças

Uma casa antiga e um pé de flor na porta
E os meninos soltos pelo laranjal
Mariana e Gabriela, dois sorrisos
Timidez guardada em renda e chita azul
Alecrim, manjericão, camélia, flor e flor
Meigamente Mariana espera seu amor
Manga-rosa, carambola, jambo, fruto bom
Gabriela meigamente inquieta floração
Uma casa antiga assim como a Tartária
E os meninos soltos pelo mundo seu
Dois sorrisos Gabriela e Mariana
Doçura guardada em renda de algodão
Manga-rosa, carambola, jambo, fruto e flor
Meigamente Mariana esconde seu sabor
Alecrim, manjericão, camélia, floração
Gabriela meigamente, inquieto coração
Uma casa antiga, alegre e avarandada
Guarda seus meninos, corpo protetor
Mariana e Gabriela agora dormem
Feito num quintal repousam, fruto e flor

Zé Renato / Juca Filho

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A Marieta manda um beijo para os seus!




Meu Caro Amigo

Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta!

Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades

É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa

Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco

A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus

Chico Buarque e Francis Hime

Minha ficha caiu agora que eu vou embora de sbo, vou morrer de saudades, não vai ser mole, mas quero todo mundo me mandando notícias, nem que seja através de uma música! E sempre que eu voltar quero carinho, cigarro e cachaça. E tenho dito.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Que o tempo inda pode voltar




No Cordão da Saideira

Hoje não tem dança
Não tem mais menina de trança
Nem cheiro de lança no ar
Hoje não tem frevo
Tem gente que passa com medo
E na praça ninguém pra cantar
Me lembro tanto
E é tão grande a saudade
Que até parece verdade
Que o tempo inda pode voltar

Tempo da praia de ponta de pedra
Das noites de lua, dos blocos de rua
Do susto é carreira na caramboleira
Do bumba-meu-boi
Que tempo que foi
Agulha frita, munguzá, cravo e canela
Serenata eu fiz pra ela
Cada noite de luar

Tempo do corso, na Rua da Aurora
É moço no passo
Menino e senhora do bonde de Olinda
Pra baixo e pra cima
Do caramanchão
Esqueço mais não
E frevo ainda apesar da quarta-feira
No cordão da saideira
Vendo a vida se enfeitar

Edu Lobo

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

É muito mais do que muito




Ave de Prata

É muito mais do que muito
Muito mais do que quantos anos todos piorei
É muito mais do que mata
Muito mais do que morrem todos pela planta do pé
É muito mais do que fera
Mais do que bicho quando quer procriar
Uma espécie, sementes da água, mistérios da luz
É muito mais do que antes
Mais do que vinte anos multiplicar
Dividir a mentira
Entre cabelos, olhos e furacões
Inventar objetos
Pela esfinge quando era mulher
Ave de prata
Veneno de fogo
Vaga-lume do mar
O mar que se acaba na areia
Gemidos da terra apoiados no chão
Entre todos que usam os dentes do arpão
Apoiados em cada parede pela mão
Pela mão que criou tantas trevas e luz
e cada coisa perdida
Perdidamente pode se apaixonar
Pela última vida
Poucos amigos hão de te procurar
Como é o silêncio?
E nesse momento, tudo deve calar
numa história que venha do povo
O juízo final

Zé Ramalho

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Basta ser o que se é




Tribalistas

Os tribalistas já não querem ter razão
Não querem ter certeza, não querem ter juízo nem religião
Os tribalistas já não entram em questão
Não entram em doutrina, em fofoca ou discussão
Chegou o tribalismo no pilar da construção

Pé em Deus
E fé na Taba
Pé em Deus
E fé na Taba

Um dia já fui chipanzé
Agora eu ando só com o pé
Dois homens e uma mulher
Arnaldo, Carlinhos e Zé

Os tribalistas saudosistas do futuro
Abusam do colírio e dos óculos escuros
São turistas, assim como você e o seu vizinho
Dentro da placenta do planeta azulzinho

O tribalismo é um anti-movimento
Que vai se desintegrar no próximo momento
O tribalismo pode ser e deve ser o que você quiser
Não tem que fazer nada, basta ser o que se é
Chegou o tribalismo, mão no teto e chão no pé


Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Os Oim Do Meu Amor




Os Oim Do Meu Amor

Ê nunca mais eu vi
Os oím do meu amor
Nunca mais eu vi
Os oím dela brilhar
Nunca mais eu vi
Os oím do meu amor
São dois jarrinho de flor
E todo mundo quer cheirar

Cordel Do Fogo Encantado

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Tom do Amor



O Tom do Amor

O amor vai te contar um segredo
Não precisa ter medo
Nem sair correndo
O amor nasce pequeno
Cresce, fica estupendo
Às vezes o amor está ali
Você nem tá sabendo
O amor tem formas, formas, aromas,
Vozes, causas, sintomas
O amor...

É mãe, é filho, é amigo,
Às vezes num canto esquecido existe amor
Antigo, antigo
O amor que cuida, parte e assusta
Que erra e pede desculpas
Às vezes o amor quer ferir
E se cura doendo

O amor tem formas, formas, aromas,
Vozes, causas, sintomas
O amor...

É pausa, silêncio, refrão
E explode nessa canção
O amor vai te contar

Um segredo, fica atento, repara bem
Que o meu amor é todo seu
Antigo.

Paulinho Moska

domingo, 10 de outubro de 2010

Tem tanta calçada pra se caminhar...

Umas e Outras

Se uma nunca tem sorriso
É pra melhor se reservar
E diz que espera o paraíso
E a hora de desabafar
A vida é feita de um rosário
Que custa tanto a se acabar
Por isso às vezes ela pára
E senta um pouco pra chorar
Que dia! Nossa, pra que tanta conta
Já perdi a conta de tanto rezar

Se a outra não tem paraíso
Não dá muita importância, não
Pois já forjou o seu sorriso
E fez do mesmo profissão
A vida é sempre aquela dança
Onde não se escolhe o par
Por isso às vezes ela cansa
E senta um pouco pra chorar
Que dia! Puxa, que vida danada
Tem tanta calçada pra se caminhar

Mas toda santa madrugada
Quando uma já sonhou com Deus
E a outra, triste enamorada
Coitada, já deitou com os seus
O acaso faz com que essas duas
Que a sorte sempre separou
Se cruzem pela mesma rua
Olhando-se com a mesma dor
Que dia! Nossa, pra que tanta conta
Já perdi a conta de tanto rezar
Que dia! Puxa, que vida danada
Tem tanta calçada pra se caminhar
Que dia! Cruzes, que vida comprida
Pra que tanta vida pra gente desanimar

Chico Buarque

www.youtube.com/watch?v=PpPxn0Lz690&feature=related

Até pensei que fosses minha

http://www.youtube.com/watch?v=waa6SZdu2J8


Até Pensei

Junto à minha rua havia um bosque
Que um muro alto proibia
Lá todo balão caia, toda maçã nascia
E o dono do bosque nem via
Do lado de lá tanta aventura
E eu a espreitar na noite escura
A dedilhar essa modinha
A felicidade morava tão vizinha
Que, de tolo, até pensei que fosse minha
Junto a mim morava a minha amada
Com olhos claros como o dia
Lá o meu olhar vivia
De sonho e fantasia
E a dona dos olhos nem via
Do lado de lá tanta ventura
E eu a esperar pela ternura
Que a enganar nunca me vinha
Eu andava pobre, tão pobre de carinho
Que, de tolo, até pensei que fosses minha
Toda a dor da vida me ensinou essa modinha

Chico Buarque

sábado, 2 de outubro de 2010

Onde Ir



Onde Ir

Eu não sei o que vi aqui
Eu não sei pra onde ir
Eu não sei porque moro ali
Eu não sei por que estou
Eu não sei pra onde a gente vai
Andando pelo mundo
Eu não sei pra onde o mundo vai
Nesse breu vou sem rumo

Só sei que o mundo vai de lá pra cá
Andando por ali, por acolá
Querendo ver um sol que não chega
Querendo ter alguém que não vem

Vanessa da Matta

sábado, 18 de setembro de 2010

O tempo pirraça




Pirraça

Passa o tempo sem demora
Quando não penso nas horas
Os ponteiros do relógio
Fazem voltas se não olho

Mas quando acendo o fogo
Para fazer um café
Vejo o tempo parar
Pra água ferver
Parece nunca acabar, espera sem fim

06:04; 06:05; 06:05; 06:05
Esperando o apito da chaleira
Vejo o tempo parar
Parar
O tempo pirraça

Quando à tarde no trabalho
Quero que o tempo passe
Os ponteiros do relógio
Só me dão o tique-taque

Quando eu encontro os amigos
Para tomar um café
A rapidez que não tinha
Sem disfarçar
Parece brincadeirinha
Pega-pega

Quando paro que olho as horas
Para o tempo que me olha
E espero ansiosa
Vou comendo a casa
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros, bomba
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros

E vejo o tempo parar
Parar
O tempo pirraça

Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros, bomba

Vanessa da Mata

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Minha Palhoça

Se você quisesse morar na minha palhoça
Lá tem troça, se faz bossa
Fica lá na roça à beira do riachão
E à noite tem violão
Uma roseira cobre a banda da varanda
E ao romper da madrugada
Vem a passarada abençoar nossa união

Tem um cavalo
Que eu comprei em Pernambuco e não estranha a pista
Tem jornal, lá tem revista
Uma kodak para tirar nossa fotografia
Vai ter retrato todo dia
Um papagaio que eu mandei vir do Pará
Um aparelho de rádio-batata
E um violão que desacata

Tem um pomar
Que é pequenino, é uma tetéia, é mesmo uma gracinha
Criação, lá tem galinha
Um rouxinol que nos acorda ao amanhecer
Isso é verdade podes crer
A patativa quando canta faz chorar
Há uma fonte na encosta do monte
A cantar chuá-chuá

Zé Renato

Mais Tempo...




Belo Estranho Dia de Amanhã

Notícias perderão todo o controle dos fatos
Celebridades cairão no anonimato
Palavras deformadas
Fotos desfocadas, vão atravessar o atlântico
Jornais sairão em branco
E as telas planas de plasma vão se dissolver
O argumento ficou sem assunto.

Vai ter mais tempo pra gente ficar junto
Vai ter mais tempo pra enlouquecer com você
Vai ter mais tempo pra gente ficar junto
Vai ter mais tempo pra enlouquecer...

Os políticos amanhecerão sem voz
O outdoor com as letras trocadas
Dentro do banco central o pessoal vai esquecer
Como é que assina a própria assinatura
E os taxistas já não sabem que rua pegar
Que belo estranho dia pra se ter alegria
E eu respondo e pergunto.

É só o tempo pra gente ficar junto
É só o tempo de eu enlouquecer por você
É só o tempo pra gente ficar junto
É só o tempo de eu enlouquecer...

Alarmes já pararam de apitar
O telefone celular descarregou
O aeroporto tá sem teto
E a moça da tv prevê silêncios e nuvens
A firma que eu trabalho faliu
E o governo decretou feriado amanhã no Brasil
Será que é pedir muito?

É só um jeito da gente ficar junto
É só um jeito de eu enlouquecer com você
É só um jeito da gente ficar junto
É só um jeito de eu enlouquecer...

Lula Queiroga

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Mas sonha que passa...




Um Sorriso Nos Lábios

Vidro moído ou areia
No café da manhã
E um sorriso nos lábios
Ensopadinho de pedra
No almoço e jantar
E um sorriso nos lábios
O sangue, o roubo, a morte
Um negro em cada jornal
E um sorriso nos lábios
Noventa e cinco sorrisos
Suando na condução
E um sorriso nos lábios...

Mas sonha que passa
Ou toma cachaça
Agüenta firme, irmão
Na oração
Deus tudo vê e Deus dará
Ou então acha graça
É tão pouca a desgraça
Mas no fim do mês
Lembra de pagar a prestação

Desse sorriso nos lábios, é
Desse sorriso nos lábios, pois é
Desse sorriso nos lábios...

O jogo, a nêga, a loteca
A fome e o futebol
E um sorriso nos lábios
A taça, a vida, a dureza
Viva a beleza do sol
E um sorriso nos lábios
Os olhos fundos sem sono
Os corpos como lençol
E um sorriso nos lábios
O cerco, a vida, o circo
Silêncio, um medo anormal
E um sorriso nos lábios

Mas sonha que passa
Ou toma cachaça
Agüenta firme, irmão
Na oração
Deus tudo vê e Deus dará
Ou então acha graça
É tão pouca a desgraça
Mas no fim do mês
Lembra de pagar a prestação

Desse sorriso nos lábios, é
Desse sorriso nos lábios, pois é
Desse sorriso nos lábios...

Gonzaguinha

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Encruzilhada de destinos

4 Horizontes

É que no fim da estrada
Eu vejo quatro horizontes
Há mar
Há montes de histórias
Mistérios
Sedes distintas

Aquilo que te sacia
Pra mim é um três por quatro
O que retrata meu medo
Pra você não tem segredo

O que pra ti é degredo
Pro outro é porto seguro
Seu furo de reportagem
Pra nós é mera bobagem

Viagem sem paradeiro
Nos faz tão perto e distantes
Depois da minha chegada
Sua partida, seu antes

Estrada de quatro sentidos
Encruzilhada de destinos
Quanto mais flor mais mulher
Quanto mais velho mais menino

Pedro Luis e Lenine

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Fé Cega, Faca Amolada

Fé Cega, Faca Amolada

Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada
Agora não espero mais aquela madrugada
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser faca amolada
O brilho cego de paixão e fé, faca amolada
Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo
Deixar o seu amor crescer e ser muito tranquilo
Brilhar, brilhar, acontecer, brilhar faca amolada
Irmão, irmã, irmã, irmão de fé faca amolada
Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia
Beber o vinho e renascer na luz de todo dia
A fé, a fé, paixão e fé, a fé, faca amolada
O chão, o chão, o sal da terra, o chão, faca amolada
Deixar a sua luz brilhar no pão de todo dia
Deixar o seu amor crescer na luz de cada dia
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai se muito tranquilo

Milton Nascimento

Por Quem Merece Amor

Por Quem Merece Amor

Te perturba esse amor?
Amor de juventude
Meu amor é amor de virtude
Te perturba esse amor?
Sem máscaras por trás
Meu amor é uma arte de paz
Te perturba esse amor?
Amor de humanidade
Meu amor é amor de verdade
Te perturba esse amor?
Com todos ao redor
Meu amor é uma arte maior

Meu amor, minha prenda encantada
Minha eterna morada
Meu espaço sem fim
Meu amor não aceita fronteira
Como a primavera
Não escolhe jardim

Meu amor, não é amor de mercado
Esse amor tão sangrado
Não se tem pra lucrar
Meu amor é tudo quanto tenho
E se eu vendo ou empenho
Para que respirar

¿Te molesta mi amor?
Mi amor de juventud
Y mi amor es un arte en virtud
¿Te molesta mi amor?
Mi amor sin antifaz
Y mi amor es un arte de paz.
¿Te molesta mi amor?
Mi amor de humanidad
Y mi amor es un arte en su edad
¿te molesta mi amor?
Mi amor de surtidor
Y mi amor es un arte mayor

Meu amor, alivia e acalma
É o remédio da alma
Pra quem quer se curar
Meu amor é humilde é singelo
E o destino mais belo
É torná-lo maior

Meu amor, o mais apaixonado
Pelo injustiçado
Pelo mais sofredor
Meu amor abre o peito pra morte
E se entrega pra sorte
Por um tempo melhor
Meu amor, esse amor destemido
Arde em fogo infinito
Por quem merece amor...

Silvio Rodriguez

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Não Quero Você Assim




Não Quero Você Assim

Olhar vazio
Nenhum sinal de emoção
Não quero você assim
Eu sei que não existe mais
Aquilo que você guardava
A mesma palavra
Querendo explicar em mim
A eternidade em mim
Não quero você assim

Não importa mais
O que foi perdido
Importa apenas o teu sorriso
E nada mais
Não há lembranças pra se guardar
Existe a vida
E os poetas como sempre
No vício das esquinas

Não importa mais
O que foi perdido
Importa apenas o teu sorriso
E nada mais
Bom é sentir esse amor
Em muitos corações
Bom é saber que a solidão
É o início de tudo

Paulinho da Viola

terça-feira, 17 de agosto de 2010

São os sonhadores...

"Todos nós temos necessidade de ser olhados.
Podemos ser classificados em quatro categorias, segundo o tipo de olhar sob o qual queremos viver.
A primeira procura o olhar de um número infinito de olhos anônimos, em outras palavras, o olhar do público.(...), é também o caso do jornalista de queixo comprido. Estava habituado com seus leitores, e quando a revista foi fechada pelos russos, teve a impressão de que vivia numa atmosfera mil vezes rarefeita. Para ele, ninguém podia substituir o olhar dos desconhecidos. Sentia-se sufocar. Até que um dia compreendeu que estava sendo seguido a cada passo pela polícia, que estava sendo escutado enquanto falava ao telefone e até mesmo discretamente fotografado na rua. De repente, olhos anônimos o seguiam por toda parte, e ele pôde respirar de novo! (...)
Na segunda categoria, estão aqueles que não podem viver sem o olhar de numerosos olhos familiares. São os organizadores incansáveis de coquetéis e jantares. São mais felizes que os da primeira categoria, que, quando perdem seu público, imaginam que a luz se apagou na sala de suas vidas. É o que acontece a quase todos mais dia, menos dia. As pessoas da segunda categoria, pelo contrário, sempre conseguem arrumar quem as olhe.
(...)
Em seguida, vem a terceira categoria, as que tem necessidade de viver sob o olhar do ser amado. A situação deles é tão perigosa quanto a daqueles do primeiro grupo. Basta que os olhos do ser amado se fechem para que a sala fique mergulhada na escuridão.
(...)
Por fim, existe a quarta categoria, a mais rara, a dos que vivem sob olhares imaginários dos ausentes. São os sonhadores.(...) Foi o que o incentivou a lhe escrever uma carta. Não pedia resposta. Só desejava uma coisa: que Tomas pousasse o olhar na sua vida."


Milan Kundera - A Insustentável Leveza do Ser


livro maravilhoso, super recomendado ;)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Seguindo meu coração




Passou

Preciso sair
Distrair um pouco
Ser içado ao mundo
Do fundo do poço
Reaparecer
Com a tarde ainda
Porque o que passou, passou
Nada é para toda a vida
Tudo o que eu vivi
É passado, escombros
Deixo os seus jardins
E afins para os pombos
Pronto para seguir
Ticket só de ida
Outro lugar, um outro amor
Uma outra cor na vida
Nunca mais outras noites
Vão me seguir de madrugada
Sua lembrança já não me faz nada
Sair pro sol
Ver a ponte se abrir
Sorrir de tudo
Desencanar
'Cê sabe ser frio
Tanto quanto a Suécia
E eu o Brasil das matas tropicais
Mares de verão, cascatas de foz
Luar do sertão
E levo a vida bem melhor
Seguindo meu coração

Djavan

Entre nobres e caras-de-pau

Passo nessa vida
Como passo na avenida
Entre nobres e caras-de-pau
Sufocados no mesmo ideal
Mas, à mercê
De um falso alento
Eu me deito
Esperando
Sorrindo ou xingando
O que jamais
Teceu-me consideração
Dança que marcou
Eu não

Djavan